O novo relatório do IPCC, para a 6.ª avaliação das alterações climáticas, considera cinco cenários de emissões que cobrem diferentes possibilidades de desenvolvimentos futuros no que diz respeito aos fatores antropogénicos das alterações climáticas. Os SSP – Shared Socioeconomic Pathway têm uma escala temporal que se inicia em 2015 e referem-se a:
SSP3-7.0 e SSP5-8.5 – Cenários com emissões de GEE altas e muito altas, respetivamente, e emissões de CO2 que praticamente duplicam relativamente aos níveis atuais em 2100 e 2050;
SSP2-4.5 – cenário com emissões intermédias de GEE e emissões de CO2 que permanecem em torno dos níveis atuais até meio do século;
SSP1-1.9 e SSP1-2.6 – cenários com emissões de GEE muito baixas e baixas, respetivamente, e emissões de CO2 que se aproximam do zero por volta de 2050, seguido por níveis variáveis de emissões líquidas de CO2 negativas.
Todos estes cenários projetam um aumento da temperatura global à superfície de 1,5ºC até meados deste século. Um aquecimento superior será registado a menos que se verifiquem reduções significativas nas emissões de CO2 e de outros gases com efeito de estufa nas próximas décadas.
As alterações no sistema climático aumentam numa relação direta com a acentuação do aquecimento global: por cada 0,5°C adicional aumenta a frequência e intensidade de ondas de calor, precipitação extrema, assim como de seca agrícola e ecológica em algumas regiões. A frequência e intensidade da seca hidrológica também aumentará em algumas regiões como resultado do aquecimento global.
Acentua-se também a propensão para ciclones tropicais intensos e a redução do Mar Ártico e do permafrost. A projeção para o Ártico refere um aumento de temperatura dos seus dias mais frios 3 vezes a taxa de aquecimento global, e espera-se que ainda antes de 2050, se registe o desaparecimento total de cobertura de neve e gelo no mês de setembro que cada ano.
O degelo do permafrost, por sua vez, irá também acentuar a emissões de GEE uma vez que libertará o carbono aí aprisionado, tendo um efeito cumulativo nas emissões.
Independentemente do nível de emissões futuras, a subida do nível medio do mar é uma realidade que irá perdurar ao longo do séc. XXI, assim como, o aumento da temperatura dos oceanos, que acentuará a sua acidificação e desoxigenação.
As alterações de temperatura, precipitação e do solo aumentam a nível regional com o incremento do aquecimento global.
São resultantes da exposição direta aos elementos meteorológicos que afetam a saúde humana, como por exemplo as ondas de calor e de frio, as tempestades e inundações.
Em Portugal prevê-se um aumento da mortalidade e das patologias associadas a tipos de tempo muito quentes, como golpes de calor, exaustão, desmaios, distúrbios de sono, problemas respiratórios e cardíacos, entre outras (Alcoforado et al., 2009; Vasconcelos, 2012).
As projeções apontam igualmente para um aumento da poluição atmosférica, provocado pelo aumento de temperatura, que provoca um incremento de alergénios na atmosfera e acelera a formação de poluentes fotoquímicos, com efeitos negativos na qualidade do ar (Alcoforado et al.,2009). Associado a este fenómeno está ainda a subida dos níveis de O3 troposférico, provocado pelas temperaturas altas. Todas estas adversidades afetarão os sistemas respiratórios e cardiovascular (Monteiro et al., 2017).
Impactos indiretos:
Estão associados às alterações das condições ambientais e que, por esta via, condicionam a saúde humana. Destacam-se as doenças transmitidas por vetores (insetos e roedores) que, devido às alterações do regime de precipitação criam condições para desenvolver parasitas que originam doenças como a malária, a febre do Nilo Ocidental, a leishmaniose, a febre escaro-nodular e a leptospirose (Reis et al., 2001; Casimiro et al., 2006; Santos e Miranda, 2006; Alcoforado et al., 2009).
Impactos societais:
Resultam das alterações económicas ou sociais das comunidades, que acabam por afetar a saúde humana, através da subnutrição e/ou aumento de doenças mentais que possam resultar da alteração da produção agrícola ou da insegurança alimentar.
– Migração das espécies para latitudes mais elevadas ou de maior altitude, onde as temperaturas são mais propícias à sua sobrevivência;
– Prolongamento da estação de floração das plantas;
– Aumento de doenças infeciosas transmitidas por insetos que se desenvolvem melhor em temperaturas elevadas;
– À medida que o nível do mar aumenta, a intrusão de água salgada pode forçar algumas espécies-chave a relocalizarem-se, removendo predadores e presas importantes nas cadeias alimentares;
– Os ecossistemas marinhos estão a sofrer com a pesca intensiva motivada pela crescente procura para consumo nos últimos 50 anos, conduzindo ao seu colapso e à perda de biodiversidade;
– A acidificação dos oceanos conduz à deterioração de um número significativo de espécies como corais (que amortecem o impacto das tempestades nas comunidades costeiras) e moluscos;
– A construção de barragens nos cursos de água implicam uma retenção de água e sedimentos (30%) que não chegam ao oceano. Menos sedimentos implicam a intensificação do fenómeno de erosão do litoral e o declínio das espécies de peixes;
– Incremento da propagação de espécies invasoras, provocado pelas alterações do meio, tais como a diminuição de precipitação no verão, o aumento de deposição de azoto nos solos e o aumento de ondas de calor (Santos et al., 2002).
Em Portugal, segundo as projeções, haverá uma diminuição da produtividade na generalidade do território devido ao aumento dos períodos e da duração dos períodos de seca (Santos e Miranda, 2006).
Com as alterações esperadas na temperatura da água, na direção e intensidade dos ventos e na precipitação e escoamento dos cursos de água, prevê-se que a abundância e distribuição de praticamente todos os recursos piscatórios se modifiquem (Santos e Miranda, 2006).
Na costa da Península Ibérica tem-se observado um incremento da temperatura da superfície do oceano (cerca de 0,9ºC entre 1926 e 2012, segundo Gamito et al., 2015). Este aumento da temperatura tem as seguintes consequências:
– Maturação sexual precoce e consequente redução da dimensão dos adultos de algumas espécies;
– Alterações na disponibilidade alimentar que podem fazer diminuir o potencial reprodutor dos peixes;
– Aumento da mortalidade das espécies autóctones e aparecimento de espécies menos comuns.
Estas consequências serão ainda agravadas pelas alterações no regime de ventos, potenciando os efeitos nefastos nas pescas, nomeadamente por modificações na distribuição das espécies de peixes que tenderão a migrar para latitudes mais elevadas, o que conduzirá a uma alteração do seu habitat e da sua produtividade e diminuirá o seu tamanho. Um dos exemplos das espécies afetadas é a sardinha, que depende muito do fitoplâncton, cuja abundância está relacionada com o afloramento de massas de água fria e ricas em nutrientes do fundo do mar. Este afloramento acontece mais frequentemente quando o vento sopra de Norte que, de acordo com as projeções climáticas, será menos incidente no território nacional.
Ao mesmo tempo que a temperatura da água se altera, verifica-se também a acidificação do oceano, a poluição das áreas costeiras e os derrames petrolíferos. Todos estes fatores terão consequências desastrosas para os ecossistemas marinhos, afetando os processos biológicos, as cadeias alimentares marinhas e de água doce, tendo consequências imprevisíveis na produção de peixe (Santos e Miranda, 2006).
Com as alterações climáticas espera-se que o número de meses frios diminuam e que o outono e a primavera sejam estações com maior grau de agradabilidade, tornando o país um destino mais atrativo para o turismo de inverno (Santos e Miranda, 2006).
Por outro lado, o verão poderá perder o interesse turístico (Clemente, 2017), reduzindo em mais de 20% as chegadas de visitantes a Portugal (Gebrayel, 2013), já que o aumento da temperatura em geral e das ondas de calor em particular reduzem os níveis de conforto térmico humano.
Os impactos da subida do nível médio do mar colocarão inevitavelmente em risco bens e pessoas, conduzindo a reduções drásticas nas funções turísticas, de recreação e transporte.
Os recursos hídricos disponíveis também se degradarão, favorecendo o aparecimento e propagação de doenças infeciosas, o que poderá afastar uma proporção considerável dos turistas, sobretudo durante o verão (Surugiu et al., 2010).